domingo, 28 de agosto de 2011

Soneto de ansiedade




As flores no caminho tornaram-se murchas
Escarafunchei meus sonhos, encontrei-os todos mortos
Todas as minhas verdades, elas estavam frouxas
Entortaram-se os meus caminhos e encontrei afiados espinhos.
 
No labor dos dias, já não vejo a luz que busquei
Entre minhas vaidades, o reconhecimento que almejei
O que vejo é tudo ruir
E a minha vontade é partir.
 
É loucura querer parar e ficar aqui?
A estabilidade em alguma coisa é minha vontade e desejo 
Mas parece que não é meu destino o que com tanto fervor almejo.
 
Por hora esta ansiedade me consome
E em tudo vejo desesperança e  fastio
Ah, vaidade, teimosa em querer.

Ana Paula Duarte.

domingo, 29 de maio de 2011

Versos caóticos, versos meus

Farta estou do lirismo comedido,
Do medo e do transe gélido
Quero o exacerbado!
Quero o equivalente as gotas do meu sangue Aníssima.
Acho que ando com anemia...
Ou devo mesmo ter sido comprada pelo sistema e vendida a prestações para a vida rotineira dos normais...
Onde andará perdida a minha caosmose natural?
Hoje acordei e vi que meu Flamboyant estava sem água,
Ninguém lembrou de regá-lo...
Ele não morreu, eu mesma corri e fiz o serviço.
Ando sendo tão só ultimamente,
Escolha minha!
Mas...eu vi
Aquelas infinidades de TUDOS que dantes anciava
Estão todos verdes, escondidos em sua copa.
Seus frutos ainda são vermelhos, 
Como o sangue,
Como a vida.

Pintura de Munch - Vampira- 

Ana Paula Duarte.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Um pouquinho de Maiakóvski



Hino ao crítico

Da paixão de um cocheiro e de uma lavadeira
Tagarela, nasceu um rebento raquítico.
Filho não é bagulho, não se atira na lixeira.
A mãe chorou e o batizou: crítico.

O pai, recordando sua progenitura,
Vivia a contestar os maternais direitos.
Com tais boas maneiras e tal compostura
Defendia o menino do pendor à sarjeta.

Assim como o vigia cantava a cozinheira,
A mãe cantava, a lavar calça e calção.
Dela o garoto herdou o cheiro de sujeira
E a arte de penetrar fácil e sem sabão.

Quando cresceu, do tamanho de um bastão,
Sardas na cara como um prato de cogumelos,
Lançaram-no, com um leve golpe de joelho,
À rua, para tornar-se um cidadão.

Será preciso muito para ele sair da fralda?
Um pedaço de pano, calças e um embornal.
Com o nariz grácil como um vintém por lauda
Ele cheirou o céu afável do jornal.

E em certa propriedade um certo magnata
Ouviu uma batida suavíssima na aldrava,
E logo o crítico, da teta das palavras
Ordenhou as calças, o pão e uma gravata.

Já vestido e calçado, é fácil fazer pouco
Dos jogos rebuscados dos jovens que pesquisam,
E pensar: quanto a estes, ao menos, é preciso
Mordiscar-lhes de leve os tornozelos loucos.

Mas se se infiltra na rede jornalística
Algo sobre a grandeza de Puchkin ou Dante,
Parece que apodrece ante a nossa vista
Um enorme lacaio, balofo e bajulante.

Quando, por fim, no jubileu do centenário,
Acordares em meio ao fumo funerário,
Verás brilhar na cigarreira-souvenir o
Seu nome em caixa alta, mais alvo do que um lírio.

Escritores, há muitos. Juntem um milhar.
E ergamos em Nice um asilo para os críticos.
Vocês pensam que é mole viver a enxaguar
A nossa roupa branca nos artigos?


Vladimir Maiakóvski

*Vladimir Maiakóvski é o maior poeta russo moderno, aquele que mais completamente expressou, nas décadas em torno da Revolução de Outubro, os novos e contraditórios conteúdos do tempo e as novas formas que estes demandavam.
Maiakóvski deixa descortinar em sua poesia um roteiro coerente, dos primeiros poemas, nitidamente de pesquisa, aos últimos, de largo hausto, mas sempre marcados pela invenção. "Sem forma revolucionária não há arte revolucionária", era o seu lema, e nesse sentido Maiakóvski é um dos raros   poetas que conseguiram realizar poesia participante sem abdicar do espírito criativo.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Série- Escritoras, poetisas e autoras brasileiras- Porém esta é russa.

Sei que é uma série sobre autoras e escritoras brasileiras, mas não posso deixar de mostrar aqui nem que seja um pouco dela.

A moça do chicote.
No canto esquerdo Lou Salomé, Paul Rée e Nietzsche no canto direito.

    Paixão, fruição, loucura e alegria. Apelidada de "raio de sol", Louise von Salomé, Lou Andreas-Salomé, ou simplesmente Lou Salomé foi uma notória violadora das regras morais de seu tempo, com sua personalidade forte e olhar firme.                     
    A moça que "chicoteou" os filósofos Nietzsche e Paul Rée, poetisa russa, uma mulher bonita e sedutora, de ideias brilhantes e libertárias. Foi poetiza, amante, amada. Nasceu rica, podendo transitar entre filósofos e intelectuais de sua época e usufruir não apenas de pensamentos, mas de uma vida livre. Qualquer obstáculo ou pessoa que ameaçassem essa liberdade de alma eram repelidos por ela própria. Descrente, cheia de dúvidas, humana, pecadora, intensa!
    E num período em que pouquíssimas mulheres conseguiam ter acesso à universidade, Lou estudou lógica, história das religiões e metafísica.

Com uma biografia intensa, boêmia e ligada à literatura e a arte em geral,Lou Salomé é um exemplo de uma mulher que viveu para ser feliz, apesar de suas neuras, transferências e de todos esses sofrimentos humanos que temperam a vida.


Eis um pouco de seus célebres e subversivos escritos, carregados de vida e coragem:


"Ouse, ouse... ouse tudo!! Não tenha necessidade de nada! Não tente adequar sua vida a modelos, nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém. Acredite: a vida lhe dará poucos presentes. Se você quer uma vida, aprenda ... a roubá-la! Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer. Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso: algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!!"


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"Claro, como se ama um amigo
Eu te amo, vida enigmática –
Que me tenhas feito exultar ou chorar,
Que me tenhas trazido felicidade ou sofrimento,
Amo-te com toda a tua crueldade,
E se deves me aniquilar,
Eu me arrancarei de teus braços
Como alguém se arranca do seio de um amigo.
Com todas as minhas forças te aperto!
Que tuas chamas me devorem,
No fogo do combate, permite-me
Sondar mais longe teu mistério.
Ser, pensar durante milênios!
Encerra-me em teus dois braços:
Se não tens mais alegria a me ofertar
Pois bem – restam-te teus tormentos. "

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"Tu, céu claro sobre mim,
Quero confiar-me a ti
Não permitas que o prazer e a dor daqui
De admirar-te possam-me impedir!
Tu, que sobre tudo te projetas,
Através de espaços e através dos ventos,
Mostra-me aonde vais, pois é minha meta
Reencontrar-te em todos os momentos.
Do prazer não quero ver o fim
Não fugirei do sofrimento que abate,
Espaço e mais espaço é o que quero sobre mim
Para ajoelhar-me sobre o azul e venerar-te."
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"só aquele que permanece inteiramente ele próprio pode, com o tempo, permanecer objeto do amor, porque só ele é capaz de simbolizar para o outro a vida, ser sentido como tal. Assim, nada há de mais inepto em amor do que se adaptar um ao outro, de se polir um contra o outro, e todo esse sistema interminável de concessões mútuas... e, quanto mais os seres chegam ao extremo do refinamento, tanto mais é funesto de se enxertar um sobre o outro, em nome do amor, de se transformar um em parasita do outro, quando cada um deles deve se enraizar robustamente em um solo particular, a fim de se tornar todo um mundo para o outro."
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"Pois, sobretudo, resulta no indivíduo uma espécie de interação ébria e exuberante das mais altas energias criadoras do seu corpo e a exaltação mais alta da alma. Enquanto nossa consciência se interessa vagamente, habitualmente, por nossa vida psíquica, como por um mundo que conhecemos mal e que controlamos ainda pior, que ao que parece forma um com ela, mas com o qual normalmente ela se entende mal - eis que se produz subitamente entre eles uma tal comunhão de enervação que todos os seus desejos, todas as suas aspirações se inflamam ao mesmo tempo."


*Trechos em itálico retirados de: http://pensador.uol.com.br/autor/Lou_Andreas_Salome/

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Eu sou um monstro

Eu sou um monstro
E dentro de mim me escondo
E dentro de mim eu cresço
E apareço
E tudo que quero não vem
E tudo que amo se vai
Você tinha razão!
Sinta-se feliz agora,
O nada, eu, o eu, um nada!
A merda,
O lamento, o desencanto que logo chega
Porque posso parecer encantadora a princípio,
Mas logo emerge o monstro...
E todos se afastam.
Quem se achegaria a um bicho?
Que desequilibra, que fere e causa asco
Insuportável teimosia
De assim permanecer...
Descobri que é essência e que devo em uma ilha deserta padecer.

Porque é em ti que me escondo, poesia. Aparentemente só você me entende.

Ana Paula Duarte. Eu-lírico?... Mistérios de Aníssima..Muahahaha.