Tema de abertura da novela em 2014. Google imagens
Desde as primeiras
chamadas de lançamento da novela Meu Pedacinho de Chão, exibida no horário das
18h00min no canal Globo, percebi que se tratava de um formato diferente.
Ludicidade, autenticidade no texto e sentidos interessantes a serem
destrinchados sutilmente nas entrelinhas trouxeram verdadeiro encantamento da
minha parte. E claro, faço o possível para acompanhar o folhetim todos os dias
da semana.
Outra coisa bacana é fato de as crianças
retornarem ao público do horário das 18h00min hrs, já que a novela tem um forte
trabalho com o mundo imaginário das mesmas, alheio às preocupações da vida
adulta. O universo infantil é retratado de maneira brilhante, sem ser piegas ou
exagerado. É simples, tocante e como já disse antes, lúdico. O cenário é um
primor e a qualidade dos atores e atrizes em cena, desde os mais jovens aos
mais experientes, dispensa comentários.
Tudo muito lindo e caprichado, a novela tem
tudo para ser um sucesso: bom texto, boa direção e bons atores e atrizes. Até
aí tudo ótimo. Mas (tem sempre um mas), eis que essa semana tive a infelicidade
de ler um 'textículo' circulando nas Redes Sociais o qual trazia algumas
informações tendenciosas que distorciam e mais uma vez, 'endemoniavam' o
folhetim, reduzindo-o ao ocultismo através de mensagens subliminares que
traziam significações comuns a religiões de matriz africana, que é sempre alvo
de evangélicos e cristão proselitistas.
Vejamos o trecho, que na verdade é o texto
completo sobre o "ocultismo" da novela. Já adianto que se não fosse a
intenção discriminatória, daria uma ótima aula, pois traz informações
interessantíssimas a respeito de alguns nomes e sua etimologia e significado.
"UM
ALERTA SOBRE A NOVELA MEU PEDACINHO DE CHÃO!!! Quem tem ouvidos, ouça o que o
Espírito diz às igrejas. O que você tem deixado entrar na sua casa? Me senti incomodada com a novela das 18:00hs (Meu
pedacinho de chão), achei as roupas estranhas então decidi pesquisar, não achei
nada tenebroso rs... Mas Deus me tocou para pesquisar nome por nome, descobri
que a vila de Santa fé é um "TERREIRO" e que o nomes dos personagens
são de "UMBANDA" veja: EPAMINONDAS chamado de ÊPA significa: saudação ao
ORIXÁ OXALÁ (Êpa Babá) SERELEPE: Seus sinônimos são Gay, excitado, inquieto, danado, caxinguelê, conhecido na umbanda como Joãozinho, Saci
Pererê, Negrinho do Pastoreio e Serelepe da Umbanda (sapeca adora balas e
doces). PITUCA: Boneca Pituca, esoterismo e ocultismo, Famosa mãe de santo, e filha de orixá
VIRAMUNDO/GIRAMUNDO: exú GINA: Famosa mãe de Santo ,A Voz de Oyá, Yansã e Ruy
de Ógún, está representando o lesbianismo. AMÂNCIA: filha de OXÚM Dona TEREZA: CIGANA, OXUM PANDA, CABLOCA, No grego significa SEIFERA E CAÇADORA. TUIM: santo,
saudação de umbanda. Mãe BENTA: mãe de santo CATARINA: mãe de santo RODAPÉ: pé
que gira PEDRO FALCÃO: Falcão povo das aguas, OXUM Tem um senhor que vive de chapéu fumando cachimbo
com bengala na mão esse vcs já sabem. Estes são apenas alguns... Que o Senhor Jesus nos lave com
seu PODEROSO SANGUE e abra nossos olhos!"
Grifos meus em negrito, visto que
gostaria se fosse possível de entender quais os problemas nos adjetivos
trazidos a cada significado e etimologia dos nomes em questão. Quanto
preconceito com tipologias historicamente discriminadas, rí-diii-cu-looo! Que o
Senhor Jesus Jah, Javé, Jeová Deus, Emanuel nos lave de tooooda ignorância com
seu sangue poderoso!
Piadas a partir deste texto serão toleradas, até porque
não tem como evitar, além da tolerância e o respeito às diferenças serem um
exercício proposto diante de tanta baboseira proselitista.
Eu, não diferentemente desse (a)
pesquisador (a) de entrelinhas e subjetividades, também fui pesquisar em fontes
menos tendenciosas e mais fundamentadas sobre o que de fato se pode e se deve
ler nas entrelinhas da novela. E considerando que também estou sendo
tendenciosa em minha argumentação, afinal, como já coloquei nos parágrafos
anteriores, eu adoro a novela, proponho apresentar um ponto de vista
verdadeiramente educativo.
O texto não é atual, a
primeira versão foi produzida em 1971 numa parceria entre a Globo e a TV
Cultura e ostenta o título de nada mais nada menos a primeira novela educativa
do país. "Seu cunho era a história de uma criança, que
morrendo de fome nos braços da mãe discutia os problemas de um pequeno vilarejo. Escrita
por Benedito Ruy Barbosa, com a colaboração de Teixeira Filho e
direção de Dionísio de Azevedo". Portanto, a novela atual é um remake. Os
parágrafos abaixo trazem um resumo básico da trama.
Tema de abertura da novela em 1971. Google imagens.
"A trama conta a história da professora
Juliana, que chega à fictícia Vila de Santa Fé para ensinar às crianças e se
depara com um povo humilde e acuado com os desmandos do coronel Epaminondas, um
homem arrogante que resolve tudo no grito e nas armas, e que dita as regras na
região. A professora conhece o amor altruísta do peão Zelão, sempre disposto a
protegê-la do assédio de Ferdinando, filho do coronel, um playboy mau caráter
que voltou da capital onde torrou toda a grana que o pai lhe mandava para os
estudos.
Em meio à guerra que se forma no vilarejo,
as crianças Pituca, Serelepe e Tuim vivem suas aventuras num mundo à parte,
longe das preocupações e interesses dos adultos. A menina Pituca é Liliane,
filha mais nova do coronel Epaminondas. E os meninos Serelepe e Tuim, são
agregados na fazenda, e por isso o coronel não vê com bons olhos a amizade pura
entre sua filha e os dois garotos."
Agora, a
parte maaais interessante que esconde o graaande mistério da novela e,
portanto, O GRANDE ALERTA SOBRE A NOVELA MEU PEDACINHO DE CHÃO.
"Ao assumir o governo
de São Paulo, Laundo Natel, ao
assumir o estado, convidou Benedito Ruy Barbosa para exercer o cargo de assessor especial do governo junto à
Presidência da TV Cultura.Assim Benedito teve a oportunidade de escrever essa
novela rural e educativa. Benedito declarou "A proposta de Pedacinho foi
mostrar o problema do homem do campo,
ensiná-lo sobre as doenças (tracoma, tétano, verminose), levá-lo para uma sala de aula, dar-lhe melhores
condições de higiene e ao mesmo tempo mostrar o interesse das classes patronais
(fazendeiros e autoridades) pelo camponês analfabeto, sem questionar nunca sua miséria e seus problemas. Como este foi o período de
desenvolvimento do Mobral, eu tentei com Pedacinho ajudar este projeto de ensino no qual na época
eu acreditava".Benedito chegou a
escrever cinco capítulos num dia, datilografando em sua antiga máquina de escrever. Ainda
segundo Benedito, a novela enfrentou problemas com a censura na cena em que um
personagem tocava violão e cantava o
Hino Nacional Brasileiro para
os caboclos. Depois disso, um aluno
cantava o hino da escola, tendo a bandeira do Brasil estendida sobre a mesa. A censura cortou as cenas,
alegando que o hino brasileiro não podia ser cantado naquele ambiente, e que a
bandeira só podia aparecer em "cenas especiais.
O projeto para a novela veio de uma pesquisa
de marketing que apontou o formato de telenovela como a melhor forma
de atingir o grande público. A
história era um drama rural e transmitia ensinamentos úteis aos trabalhadores e
à população do campo. Os autores contavam com informações fornecidas pelas
secretarias municipais de Agricultura e Saúde para escrever
sobre vacinação, desidratação infantil, higiene e técnicas agrícolas.
Com o desenvolvimento do Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), na época,
a novela também abordou o problema do analfabetismo no campo,
levando personagens adultos às salas de aula.”.
Quem estuda ou trabalha nas áreas de
Educação de Saúde sabem da importância histórica para ambas as áreas desse
período de conscientização dos cuidados com as doenças (higiene, saneamento
básico, prevenção, vacinas, etc.), incentivando a melhoria da qualidade de vida
das famílias e a campanha nacional para a alfabetização da população brasileira
na década de 1960 através do trabalho de Paulo Freire, principalmente a
camponesa (através da educação de adultos, tanto em cidades quanto no campo).
Assim sendo, essa novela se configurou
não apenas como entretenimento, mas como utilidade pública. Dando sua
contribuição significativa no alcance da população para discutir essas
temáticas de modo mais leve e popular. E para fim de conversa, é essa a
mensagem subliminar mais importante, que inclusive pode servir como conteúdo
nas escolas. E quanto ao questionamento contido no texto proselitista, é muito
importante que pais e mães pensem de fato sobre o tipo de conteúdo e informação
que deixam entrar em suas casas. Ideias preconceituosas, intolerantes,
excludentes e violentas, só contribuem para a massificação do pensamento/conhecimento/ação. E tenho dito!
Ana Paula Duarte.
Fonte: Globo novelas e Wikipédia.
Fonte: Globo novelas e Wikipédia.