quinta-feira, 28 de junho de 2012

Série- Escritoras e Poetisas Brasileiras*- Myriam Fraga

Olá queridos/as leitores/as do nosso Espaço Literário!


Nesta postagem da Série, temos uma baiana, escritora, diretora, enfim, uma mulher muito especial: é Myriam Fraga. Em seus versos aparecem o perfil da mulher, o corpo, a força, a liberdade e a beleza do feminino. Vamos a um pouco de sua história!


Escritora, poeta, jornalista e biógrafa, Myriam Fraga tem 20 livros publicados, entre poesia e prosa. Pertence à Academia de Letras da Bahia e ao Conselho de Cultura do Estado. Começou a escrever em 1957, sendo contemporânea de Glauber Rocha e um grupo de intelectuais da época. Participou de várias Antologias no Brasil e exterior, tendo poemas traduzidos para o inglês, francês e alemão. Entre suas recentes publicações: Sesmaria e Femina (poesia), Jorge Amado, Castro Alves, Luis Gama e Carybé (literatura infantil), Leonídia – a musa infeliz do poeta Castro Alves (biografia). É diretora da Casa de Jorge Amado, em Salvador, Bahia, Brasil. 


Em Poesia reunida, de Myriam Fraga. Em um deles, vamos encontrar o tema de nossos estudos e debates deste ano no Campo Psicanalitico - Corpo. No outro, Possessão, também somos remetidos à questão do corpo, este corpo que, para a psicanálise, habita a linguagem e por ela é, também, habitado, corpo que, como nos diz Lacan em L´étourdit é "um efeito da arte".
Abaixo, selecionei dois poemas para nos deliciarmos:

Corpo

O corpo,
Esta ilusão,
A transparência
Onde o tempo se inscreve,
A esculpida
Relembrança
- o não vivido.
O corpo,
Este completo desfrutar-se,
Onda, peixe, sereia,
De barbatanas selvagens
Como facas.
Corpo - o corpo,
Território do nunca,
Inigualável
País do meu espanto.
De todos os espantos.
(des)encontros, naufrágios,
Precipícios.
Pássaro-fêmea, carne
Colada em moldura,
Pele, poro.

Possessão 

o poema me tocou
Com sua graça,
Com suas patas de pluma,
Com seu hálito
De brisa perfumada.
O poema fez de mim
O seu cavalo;
Um arrepio no dorso,
Um calafrio,
Uma dança de espelhos
E de espadas.
De repente, sem aviso,
O poema como um raio
- Elegbá, pombajira! -
Me tocou com sua graça,
Aceso como chicote,
Certeiro como pedrada.

Salvador, abril, 1995

domingo, 17 de junho de 2012

A arte de amar e querer...




V Cem sonetos de amor

Querer

No te quiero sino porque te quiero
y de quererte a no quererte llego
y de esperarte cuando no te espero
pasa mi corazón del frío al fuego.
Te quiero sólo porque a ti te quiero,
te odio sin fin, y odiándote te ruego,
y la medida de mi amor viajero
es no verte y amarte como un ciego.

Tal vez consumirá la luz de enero,
su rayo cruel, mi corazón entero,
robándome la llave del sosiego.

En esta historia sólo yo me muero
y moriré de amor porque te quiero,
porque te quiero, amor, a sangre y fuego.

Em português:


Não te quero senão porque te quero
E de querer-te a não querer-te chego
E de esperar-te quando não te espero
Passa meu coração do frio ao fogo.
Te quero só porque a ti te quero,
Te odeio sem fim, e odiando-te rogo,
E a medida de meu amor viageiro
É não ver-te e amar-te como um cego.
Talvez consumirá a luz de janeiro
Seu raio cruel, meu coração inteiro,
Roubando-me a chave do sossego.
Nesta história só eu morro
E morrerei de amor porque te quero,
Porque te quero, amor, a sangue e a fogo.

Pablo Neruda

Ilustração: o famoso quadro de Gustav Klimt – Adam & Eve