quinta-feira, 19 de março de 2015

Babilônia e o mimimi dos guardadores da moral e do senso comum

É texto grande de propósito, e, como numa novela, você pode assistir se quiser. Portanto leia se quiser...LIBERDADE!
Imagem do google

Eu preciso emitir OPINIÃO sobre isso.
E como já vimos isso é bem diferente de apregoar o discurso de ódio.
Pois bem, pensando na teledramaturgia enquanto um veículo de comunicação de massa, que tem seu surgimento advindo do gênero Folhetim (século XIX), foi sendo atualizada no século XX e sofreu ainda mais alterações na pós-modernidade graças aos auxílios tecnológicos, sendo cada vez mais interativa e mais dinâmica, agregando mais expectadores (as). Por isso é importante tecer algumas informações que nos desloquem do senso comum.
A primeira delas é que a telenovela brasileira é um produto que exporta a cultura e seu modo de vida mundo afora. Por ser pensada para entreter a massa sempre foi marginalizada por intelectuais que a excluíram e ainda a excluem dos demais gêneros de linguagem e comunicação, como uma prima pobre e distante dos romances, livros e folhetins por possuir uma estrutura mais simples, com adjetivações menos canônicas e numa linguagem mais próxima da realidade da população (num sentido cultural e inteligível), justamente por isso tenha caído nas graças do povo brasileiro.
A tão falada Rede Globo se aperfeiçoou como poucas emissoras do país na produção e comercialização das novelas brasileiras. Apostou no produto, investiu e o retorno tem sido bastante lucrativo, seja através da publicidade de grandes marcas ou pela possibilidade de ditar moda e comportamentos, ou ainda pela exportação das novelas brasileiras para diversas partes do mundo.
Como todos e todas já sabem, não nutro pela emissora a maior das simpatias e faço mesmo toda uma crítica contundente às suas lavagens (ou a tentativa delas) por detrás de suas informações e de toda a sua programação, que serve a uma postura ideológica a qual não me submeto. É lógico que em suas novelas uma ou várias pitadas sutis (ou nem tanto) desse modo de dominação da massa também serão tempero pronto.
Porém, gostaria de destacar aqui a parte de utilidade pública dessas novelas, seja por incentivo da emissora, ou de seus autores. Muitas pessoas não conseguem criticá-la quando em seu trabalho informativo e jornalístico, despeja descaradamente em nossas mentes uma predisposição para conclamar a massa às ruas, incitando a população para o impedimento e ser manobra de uma elite descontente com o Governo que a emissora nunca engoliu. 
Entre escândalos de parcialidade, sonegação de impostos e pacto com o demônio, nos ateremos às novelas. De Babilônia, que começou na segunda-feira, sabe-se muito pouco. O que importa mesmo é o seu nome. Situada na Mesopotâmia, onde hoje fica o Iraque, tem sua tradução mais rasa como sendo "lugar de conflito, confusão". E é justamente pelo seu nome que começou toda essa confusão, fazendo jus ao nome. Em seguida, pelo casal gay interpretado pelas divas da dramaturgia Fernanda Montenegro e Natália Timberg, primeiro casal idoso a ter um beijo lésbico no horário das 21 horas. Só isso já deu pano pra manga e para o enxovalhar de críticas. Ninguém se importou com o assassinato do motorista, muito menos com o comportamento da ninfomaníaca Beatriz, que já virou meme na internet. Tudo isso foi abafado pela bela cena de carinho que faz a arte imitar a vida, a vida imitar a arte e que ao menos nos traz (ou não) uma reflexão sobre as diversas famílias deste mundo, não enquanto possibilidades, mas como sendo existentes nessa sociedade nossa de cada dia. Para muitos essa cena foi ofensiva e uma afronta a moral e os bons costumes da sociedade de bem e pode, inclusive, incentivar a prática homossexual, transviar a juventude, etc., etc.
Pois bem, a história das novelas no Brasil sempre trouxe campanhas interessantes, abordadas como sendo de utilidade pública. Temas como homossexualidade, racismo, desigualdade social, adoção, DST's, tráfico humano, exploração sexual, violência doméstica, drogas, doenças, etc., etc., sempre foram encampados e trabalhados nos mais diversos personagens, denotando responsabilidade social nas mais diversas obras. E é justamente esse lado utilitário e reflexivo, em uma abordagem acessível e popular que quero aqui defender, essa possibilidade de dialogar com o público sobre temas candentes, tabus, polêmicas. A ideia defendida pelo senhor Marco Feliciano, Deputado Federal desta república laica e diversa, de que a Globo faz apologia a "ditadura gay" precisa ser desmascarada. Como, num país em que homossexuais são assassinados por suas aptidões e escolhas sexuais, vive-se uma ditadura? Como minha gente, se nem o direito de ir e vir os (as) homossexuais tem sem serem assombrados pelo medo de ataques homofóbicos de cidadãos e cidadãs dessa sociedade de bem que não aceita conviver com a diversidade? Então, cabe à novela mostrar o exercício da tolerância, do respeito, da naturalização, sim, porque anormal é achar que discurso de ódio é opinião.
Lembro-me de há meses atrás ter escrito em defesa da novela Meu Pedacinho de Chão, que num tom bem fanático estava sendo demonizada por algumas denominações religiosas.
Agora é a vez de Babilônia. Que só me remete a música de Babylon System, de Bob Marley, com ênfase na parte:

"We refuse to be
What you wanted us to be
We are what we are
That's the way it's going to be, if you don't know
You can't educate I
For no equal opportunity
Talking about my freedom
People freedom and liberty."

Tradução
"Nós nos recusamos a sermos
O que vocês querem que sejamos
Nós somos quem somos
E é assim que vai ser, se você não sabe!
Vocês não podem me educar
Para oportunidades desiguais
Falando da minha liberdade
Um Povo livre e liberdade!"

E aí fico pensando o que é essa Babilônia e porque a tememos tanto, se é da confusão que se estabelece uma nova ordem das coisas. Ou se a Babilônia é um sistema vampiro, que nos cega, que nos impõe e molda segundo padrões e critérios tão sectários. Eu só sei que da Babilônia eu só tenho vontade de gritar: 
- Rebel, Rebel!
Tell the children the truth right now.

E pensar em como podemos nos libertar das opressões que nos prendem e consomem nossos dias.
Porque a Babilônia é aqui, este império não caiu como muitos dizem, talvez tenha simplesmente sido transplantado de um espaço geográfico para um símbolo de um império imponente e que pode ser a representação de um país, uma cidade, uma casa, uma igreja, um tirano.
E enquanto uma profissional (professora de português e literatura), eu não posso me deixar levar pelo senso comum de um aloprado fanático, que vem deste muito tempo chamando atenção por sua luta contra as minorias e em favor de uma família tradicional que não existe e que sinceramente questiono se um dia existiu (e olha que eu venho da família cristã, com papai, mamãe e filhinhos). 
E por isso é que irei esperar que a novela me mostre um bom roteiro, de texto substantivo e com temas polêmicos, um show de atuação, e, se Gilberto Braga, expert nesse quesito irá temperar a trama com personagens que nos problematizem enquanto gente, complexos que somos. Viva a teledramaturgia brasileira, sucesso dentro e fora do país!
E vamos parar com esse mimimi por causa de um beijo gay, quando a mesma emissora permite um reality show tão vulgarizado como o BBB (vou usar a sigla pela preguiça de escrever o nome mesmo), no qual é permitido cenas de sexo, pegação e xingamentos, mas isso não nos choca, por se tratar de casais heterossexuais. E aí a gente usa o chavão: “Ah, se não gosta desliga a TV.” Mas quando se trata de um casal gay, vamos fazer campanha pra que o STF- Supremo Tribunal Federal tire a novela do ar...É, em tempos de marcha pró- intervenção militar, estamos necessitados mesmo de uma intervenção psiquiátrica, porque olha...Nunca antes na história desse país se viu tanto conservadorismo em voga. 
Esse negócio chamado heteronormatividade complica nossa vida, viu?! No mais, não quer ver a novela, é simples: não assiste! É assim que eu faço quando não quero ver uma coisa que não me agrada. Mas não invento campanha depreciativa querendo impor a minha vontade.

Beijos.

terça-feira, 6 de maio de 2014

A verdade verdadeira sobre a Novela Meu Pedacinho de Chão

Tema de abertura da novela em 2014. Google imagens

        Desde as primeiras chamadas de lançamento da novela Meu Pedacinho de Chão, exibida no horário das 18h00min no canal Globo, percebi que se tratava de um formato diferente. Ludicidade, autenticidade no texto e sentidos interessantes a serem destrinchados sutilmente nas entrelinhas trouxeram verdadeiro encantamento da minha parte. E claro, faço o possível para acompanhar o folhetim todos os dias da semana.
        Outra coisa bacana é fato de as crianças retornarem ao público do horário das 18h00min hrs, já que a novela tem um forte trabalho com o mundo imaginário das mesmas, alheio às preocupações da vida adulta. O universo infantil é retratado de maneira brilhante, sem ser piegas ou exagerado. É simples, tocante e como já disse antes, lúdico. O cenário é um primor e a qualidade dos atores e atrizes em cena, desde os mais jovens aos mais experientes, dispensa comentários.
       Tudo muito lindo e caprichado, a novela tem tudo para ser um sucesso: bom texto, boa direção e bons atores e atrizes. Até aí tudo ótimo. Mas (tem sempre um mas), eis que essa semana tive a infelicidade de ler um 'textículo' circulando nas Redes Sociais o qual trazia algumas informações tendenciosas  que distorciam e mais uma vez, 'endemoniavam' o folhetim, reduzindo-o ao ocultismo  através de mensagens subliminares que traziam significações comuns a religiões de matriz africana, que é sempre alvo de evangélicos e cristão proselitistas.
        Vejamos o trecho, que na verdade é o texto completo sobre o "ocultismo" da novela. Já adianto que se não fosse a intenção discriminatória, daria uma ótima aula, pois traz informações interessantíssimas a respeito de alguns nomes e sua etimologia e significado.

"UM ALERTA SOBRE A NOVELA MEU PEDACINHO DE CHÃO!!! Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. O que você tem deixado entrar na sua casa? Me senti incomodada com a novela das 18:00hs (Meu pedacinho de chão), achei as roupas estranhas então decidi pesquisar, não achei nada tenebroso rs... Mas Deus me tocou para pesquisar nome por nome, descobri que a vila de Santa fé é um "TERREIRO" e que o nomes dos personagens são de "UMBANDA" veja: EPAMINONDAS chamado de ÊPA significa: saudação ao ORIXÁ OXALÁ (Êpa Babá) SERELEPE: Seus sinônimos são Gay, excitado, inquieto, danado, caxinguelê, conhecido na umbanda como Joãozinho, Saci Pererê, Negrinho do Pastoreio e Serelepe da Umbanda (sapeca adora balas e doces). PITUCA: Boneca Pituca, esoterismo e ocultismo, Famosa mãe de santo, e filha de orixá VIRAMUNDO/GIRAMUNDO: exú GINA: Famosa mãe de Santo ,A Voz de Oyá, Yansã e Ruy de Ógún, está representando o lesbianismo. AMÂNCIA: filha de OXÚM Dona TEREZA: CIGANA, OXUM PANDA, CABLOCA, No grego significa SEIFERA E CAÇADORA. TUIM: santo, saudação de umbanda. Mãe BENTA: mãe de santo CATARINA: mãe de santo RODAPÉ: pé que gira PEDRO FALCÃO: Falcão povo das aguas, OXUM Tem um senhor que vive de chapéu fumando cachimbo com bengala na mão esse vcs já sabem. Estes são apenas alguns... Que o Senhor Jesus nos lave com seu PODEROSO SANGUE e abra nossos olhos!" 

        Grifos meus em negrito, visto que gostaria se fosse possível de entender quais os problemas nos adjetivos trazidos a cada significado e etimologia dos nomes em questão. Quanto preconceito com tipologias historicamente discriminadas, rí-diii-cu-looo! Que o Senhor Jesus Jah, Javé, Jeová Deus, Emanuel nos lave de tooooda ignorância com seu sangue poderoso!
        Piadas a partir deste texto serão toleradas, até porque não tem como evitar, além da tolerância e o respeito às diferenças serem um exercício proposto diante de tanta baboseira proselitista.
      Eu, não diferentemente desse (a) pesquisador (a) de entrelinhas e subjetividades, também fui pesquisar em fontes menos tendenciosas e mais fundamentadas sobre o que de fato se pode e se deve ler nas entrelinhas da novela. E considerando que também estou sendo tendenciosa em minha argumentação, afinal, como já coloquei nos parágrafos anteriores, eu adoro a novela, proponho apresentar um ponto de vista verdadeiramente educativo.
       O texto não é atual, a primeira versão foi produzida em 1971 numa parceria entre a Globo e a TV Cultura e ostenta o título de nada mais nada menos a primeira novela educativa do país. "Seu cunho era a história de uma criança, que morrendo de fome nos braços da mãe discutia os problemas de um pequeno vilarejo. Escrita por Benedito Ruy Barbosa, com a colaboração de Teixeira Filho e direção de Dionísio de Azevedo". Portanto, a  novela atual é um remake. Os parágrafos abaixo trazem um resumo básico da trama.

Tema de abertura da novela em 1971. Google imagens.

 "A trama conta a história da professora Juliana, que chega à fictícia Vila de Santa Fé para ensinar às crianças e se depara com um povo humilde e acuado com os desmandos do coronel Epaminondas, um homem arrogante que resolve tudo no grito e nas armas, e que dita as regras na região. A professora conhece o amor altruísta do peão Zelão, sempre disposto a protegê-la do assédio de Ferdinando, filho do coronel, um playboy mau caráter que voltou da capital onde torrou toda a grana que o pai lhe mandava para os estudos.

Em meio à guerra que se forma no vilarejo, as crianças Pituca, Serelepe e Tuim vivem suas aventuras num mundo à parte, longe das preocupações e interesses dos adultos. A menina Pituca é Liliane, filha mais nova do coronel Epaminondas. E os meninos Serelepe e Tuim, são agregados na fazenda, e por isso o coronel não vê com bons olhos a amizade pura entre sua filha e os dois garotos."
       Agora, a parte maaais interessante que esconde o graaande mistério da novela e, portanto, O GRANDE ALERTA SOBRE A NOVELA MEU PEDACINHO DE CHÃO.

"Ao assumir o governo de São Paulo, Laundo Natel, ao assumir o estado, convidou Benedito Ruy Barbosa para exercer o cargo de assessor especial do governo junto à Presidência da TV Cultura.Assim Benedito teve a oportunidade de escrever essa novela rural e educativa. Benedito declarou "A proposta de Pedacinho foi mostrar o problema do homem do campo, ensiná-lo sobre as doenças (tracoma, tétano, verminose), levá-lo para uma sala de aula, dar-lhe melhores condições de higiene e ao mesmo tempo mostrar o interesse das classes patronais (fazendeiros e autoridades) pelo camponês analfabeto, sem questionar nunca sua miséria e seus problemas. Como este foi o período de desenvolvimento do Mobral, eu tentei com Pedacinho ajudar este projeto de ensino no qual na época eu acreditava".Benedito chegou a escrever cinco capítulos num dia, datilografando em sua antiga máquina de escrever. Ainda segundo Benedito, a novela enfrentou problemas com a censura na cena em que um personagem tocava violão e cantava o Hino Nacional Brasileiro  para os caboclos. Depois disso, um aluno cantava o hino da escola, tendo a bandeira do Brasil estendida sobre a mesa. A censura cortou as cenas, alegando que o hino brasileiro não podia ser cantado naquele ambiente, e que a bandeira só podia aparecer em "cenas especiais.
O projeto para a novela veio de uma pesquisa de marketing que apontou o formato de telenovela como a melhor forma de atingir o grande público. A história era um drama rural e transmitia ensinamentos úteis aos trabalhadores e à população do campo. Os autores contavam com informações fornecidas pelas secretarias municipais de Agricultura e Saúde para escrever sobre vacinação, desidratação infantil, higiene e técnicas agrícolas. Com o desenvolvimento do Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), na época, a novela também abordou o problema do analfabetismo  no campo, levando personagens adultos às salas de aula.”.

         Quem estuda ou trabalha nas áreas de Educação de Saúde sabem da importância histórica para ambas as áreas desse período de conscientização dos cuidados com as doenças (higiene, saneamento básico, prevenção, vacinas, etc.), incentivando a melhoria da qualidade de vida das famílias e a campanha nacional para a alfabetização da população brasileira na década de 1960 através do trabalho de Paulo Freire, principalmente a camponesa (através da educação de adultos, tanto em cidades quanto no campo).
        Assim sendo, essa novela se configurou não apenas como entretenimento, mas como utilidade pública. Dando sua contribuição significativa no alcance da população para discutir essas temáticas de modo mais leve e popular. E para fim de conversa, é essa a mensagem subliminar mais importante, que inclusive pode servir como conteúdo nas escolas. E quanto ao questionamento contido no texto proselitista, é muito importante que pais e mães pensem de fato sobre o tipo de conteúdo e informação que deixam entrar em suas casas. Ideias preconceituosas, intolerantes, excludentes e violentas, só contribuem para a massificação do pensamento/conhecimento/ação.  E tenho dito!


Ana Paula Duarte.

Fonte: Globo novelas e Wikipédia.






sábado, 8 de março de 2014

Análise comparativa das letras das músicas Amélia (Mario Lago, no século passado) e Desconstruindo Amélia (Pitty, anos 2000)



1º ESTROFE AMÉLIA

'Ai que saudade da Amélia!

Nunca vi fazer tanta exigência

Nem fazer o que você me faz

Você não sabe o que é consciência

Nem vê que eu sou um pobre rapaz

Você só pensa em luxo e riqueza

Tudo que você vê você quer

Ai, meu Deus, que saudade da Amélia

Aquilo sim é que era mulher'
(...)

Aqui o compositor estabelece uma comparação entre a pacata, servil e humilde Amélia e uma outra mulher, a qual ele nem cita o nome, acusada de ser consumista, falsa e fútil.

1º ESTROFE DE PITTY

'Já é tarde, tudo está certo
Cada coisa posta em seu lugar
Filho dorme ela arruma o uniforme
Tudo pronto pra quando despertar
O ensejo a fez tão prendada
Ela foi educada pra cuidar e servir
De costume esquecia-se dela
Sempre a última a sair'
(...)

Inicialmente, a mulher da música muito assemelha-se a Amélia de Mario Lago. Solícita, prendada e ocupadíssima com os afazeres domésticos que tomavam todos os seus dias. Mas, essa Amélia é pós-moderna e pode surpreender.

2º ESTROFE DE AMÉLIA

'Às vezes passava fome ao meu lado

E achava bonito não ter o que comer

E quando me via contrariado

Dizia: Meu filho, que se há de fazer'

Amélia, apática, não tinha mesmo voz ativa. Dependente também financeiramente do homem, passava fome e, acomodada, esperava por ele ou pelos "deuses", por alguma solução.

2° ESTROFE DE PITTY

"Disfarça e segue em frente
Todo dia até cansar
Uooh!
E eis que de repente ela resolve então mudar
Vira a mesa
Assume o jogo
Faz questão de se cuidar
Uooh!
Nem serva, nem objeto
Já não quer ser o outro
Hoje ela é um também"

A Amélia agora, rompe com o autoritarismo, com todo jugo que a oprimia, torna-se dona de si mesma, segue em busca da tão importante igualdade de direitos, pois se entende como sujeito.

3º E ÚLTIMA ESTROFE DE AMÉLIA

"Amélia não tinha a menor vaidade

Amélia é que era mulher de verdade

Amélia não tinha a menor vaidade

Amélia é que era mulher de verdade."

Amélia, a boba, a muda, a pura, a santa! Amélia era mulher de verdade? Por quê? Amélia não incomodava? Amélia se anulava? Quantas dessas Amélias existiram e continuam existindo? (Nem tem muito o que analisar desse trecho, não é? É tão visível o machismo...)

3º ESTROFE DE PITTY

"A despeito de tanto mestrado
Ganha menos que o namorado
E não entende porque
Tem talento de equilibrista
Ela é muita se você quer saber
Hoje aos 30 é melhor que aos 18
Nem Balzac poderia prever
Depois do lar, do trabalho e dos filhos
Ainda vai pra night ferver"

A Amélia de Pitty transgrediu a Amélia dominada de Mário, ousou ser mais, ousou ter sonhos, ousou ter vida própria. Enveredou por outros caminhos que não os domésticos apenas, foi estudar, ousou divorciar-se e se relacionar com outras pessoas, ousou não se importar com a idade, não tem idade para ser feliz. Ousou curtir um chopp com os amigos no barzinho.

Ai, que bom que os costumes mudam , que as eras mudam e que nós evoluímos. Ah, e por favor: sem essa de Amélia! (Des) Ameliem-se!!!

terça-feira, 6 de agosto de 2013

COMO MATAR A LINGUAGEM EM DUAS LIÇÕES

Por Marcos Bagno.


Num artigo publicado inicialmente em jornal (1999) e mais tarde incluído no livroEstrangeirismos: guerras em torno das línguas (Parábola Editorial, 2001), organizado por ele, o linguista Carlos Alberto Faraco se referiu sem rodeios à “miséria da educação linguística que se oferece na escola brasileira”. Já entramos na segunda década do novo século (aliás, do novo milênio!) e, infelizmente, esse estado de miséria pouco se alterou – o que é bastante previsível, uma vez que quinhentos anos de atraso educacional não se resolvem de uma hora para a outra.
Definitivamente, parafraseando Hamlet, há algo de podre no reino da educação brasileira. A pedagogia de língua no Brasil tem se pautado – obsessivamente – por algo que recebe o nome equivocado de “ensino de gramática”. Por que esse nome é equivocado? Porque muitos e muitos problemas educacionais se resolveriam se, de fato, de verdade, pra valer, existisse algo semelhante a “ensino de gramática” nas nossas escolas. O que se chama de “ensino de gramática”, no entanto, como já vem sendo denunciado há décadas por tantos pesquisadores (ver o livro Gramática na escola, de Maria Helena de Moura Neves, Ed. Contexto, 1990), é a pobre e indigente tarefa de classificar ruínas de linguagem: esqueletos sem carne ou lascas de carne sem osso.
Naquele livro, Moura Neves oferecia um quadro desolador desse falso “ensino de gramática”. Depois de entrevistar docentes de Língua Portuguesa das mais variadas escolas do estado de São Paulo (o mais rico e industrializado do país!), ela concluiu que quase 80 por cento do tempo de aula dessa disciplina era desperdiçado com a velha “análise morfológica” e a ainda mais velha “análise sintática”.
É claro que não existe problema nenhum nessas análises, assim como o uso dametalinguagem também não é nenhum problema. O problema é impor essas tarefas como finalidades em si mesmas, quando, do modo como elas se realizam, o que se constata nelas é a total ausência de qualquer finalidade que seja. Se existir um motivo real, relevante e honesto para as análises morfossintáticas, então que venham muitas e muitas atividades metalinguísticas. Conceitos fundamentais como transitividade, por exemplo, se fossem bem apreendidos, iluminariam vastos domínios desse reino obscuro e pantanoso que é a nossa educação linguística.
No entanto, como se fosse possível, a coisa ainda pode piorar quando topamos com aquelas que chamo – com toda a ironia cabível – de atividades matalinguísticas, isto é, aqueles exercícios em que se destrói o que a linguagem tem de mais importante, que é a ativação da inteligência gramatical intuitiva que todo e qualquer falante traz dentro de si. Essas atividades são as que procuram matar logo no berço o letramento incipiente dos alunos, esses mesmos que chegam no final do 8° ano com um nível rudimentar de alfabetismo. Tarefas que não se valem de frases artificialmente criadas e sim — pior, muito pior, infinitamente pior — de textos literários (ou, melhor dizendo, de fragmentos de textos literários) que não são objeto de nenhum trabalho de leitura, mas apenas de atividades estéreis que só podem contribuir para elevar a já reconhecida repulsa dos aprendizes pelas “aulas de português”:
3 Leia este fragmento de um poema

Profundamente
[...]
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes

Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Profundamente.
                            Manuel Bandeira

a) Escreva no caderno se as palavras destacadas estão relacionadas a um verbo ou a um substantivo.
b) Quais delas são adjetivos e quais são advérbios?
c) De que tipo são esses advérbios destacados?
d) No caderno, transcreva do poema uma locução adverbial que expresse cada uma das circunstâncias abaixo.
  • tempo • lugar
e) Ainda no caderno, escreva um advérbio ou uma locução adverbial para cada um destes verbos.
  • dançavam • cantavam • riam

4. Observe:

Palavras conjeturadas
oscilam no ar de surpresas,
como peludas aranhas
na gosma das teias densas.

Cecília Meireles

a) Essa estrofe contém um período composto por duas orações. Transcreva a oração principal e a subordinada, classificando-a.
b) Identifique:
  • a dupla de termos comparados.
  • o verbo subentendido na oração subordinada.

5. Leia:

Nunca serão as espadas
lisas como o meu coração,
mas grossas e enferrujadas.

Cecília Meireles

Reescreva, em prosa, o período contido nesses três versos:
• antepondo o sujeito ao verbo na oração principal;
• completando a oração subordinada adverbial comparativa com o verbo e predicativo subentendidos;
• completando a oração coordenada sindética adversativa com o verbo subentendido.

Esses exercícios falam por si sós. Seu absurdo pedagógico grita em nossos ouvidos: transformar o trabalho artístico de duas das mais importantes vozes líricas da nossa literatura — Manuel Bandeira e Cecília Meireles — em cadáveres textuais para serem submetidos à autópsia morfológica e sintática! Fazer isso com “Profundamente”, um dos mais comoventes poemas jamais escritos em língua portuguesa? Citar versos de Cecília Meireles sem nem sequer indicar de que poema ou livro foram tão violentamente arrancados?
Miséria absoluta, já que, “com tudo isso, fica configurado, acima de tudo, que se prescinde de toda reflexão para falar de ‘gramática’, e que se desconhece absolutamente o uso da linguagem quando se trata a ‘gramática’ da língua" (M. H. Moura Neves).
Esses exercícios (que, desgraçadamente, coletei de livros didáticos contemporâneos, que estão aí no mercado) cumprem à perfeição, e numa tacada só, duas tarefas abjetas: matar o gosto pelo estudo da linguagem e, ao mesmo tempo, matar qualquer possibilidade de levar os aprendizes a se interessar pela poesia.
Se, em outra peça de Shakespeare, um soberano desesperado, de pé no meio da batalha, exclama “Meu reino por um cavalo!”, muitos de nós, educadores comprometidos, talvez pudéssemos gritar: “Meu reino por aulas de gramática dignas desse nome!”.
E assim estamos: não ensinamos nossos alunos nem a ler, nem a escrever e, muito menos, a refletir sobre a língua em que não leem e em que não escrevem.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O passo

Universo...
Disperso
A travessa,
A rua possessa...
Atravesso
O passo,
Alargo.
O rastro,
A lama...
A rua
Suja!
Atravesso
O inverso...
Submerso, o verso
Arrebenta o resto
Desvela o mistério
Transcende
Incertezas, belezas
Urge e surge
Nua
O fim da rua.
Calada,
Transverso, atravesso
O retrocesso.

Ana Paula Duarte

sábado, 19 de janeiro de 2013

Cazuza: Ideologia, Brasil, Burguesia e O Brasil vai ensinar o mundo, o amadurecimento político do poeta


Aqui tem poesia concisa!


Tive a maravilhosa coincidência de encontrar o Blog do Carlos Maia, onde tive acesso a milhares de textos e vídeos interessantíssimos. Dentre eles, o que mais me interessou por questões de afinidades pessoais e ideológicas, foi o que agora tenho o prazer de compartilhar alguns trechos com os leitores desse Blog. O texto discute o posicionamento político do Cazuza e sua influência em suas produções musicais.

Aos escritos!

Do Blog Terra de Gigantes  - Esdras Gomes



[A burguesia fede! Um poeta rebelde antes do adeus afirmou. Agenor de Miranda Araújo Neto, Cazuza, nasceu na Cidade do Rio de Janeiro em 4 de abril de 1958 e morreu no dia 7 de julho de 1990 com 32 anos.
Do primeiro disco com o Barão Vermelho em 1982 ao último gravado em 1989, não é só refinamento do poeta que é visto. Mas sim o amadurecimento político de Cazuza.
O primeiro disco, com o nome de Barão Vermelho trouxe músicas comoDown em mim e Todo amor que houver nessa vida, que tem uma visão subjetiva interna do poeta. No segundo disco de 1983, Barão Vermelho 2, aparece a música Pro dia nascer feliz, sucesso do grupo, tocada no primeiro Rock in Rio em 1985 e regravada por diferentes interpretes.
No ano de 1984, em seu último disco com o Barão Vermelho, que teve como nome Maior Abandonado, trouxe como sucessos, Maior Abandonado, Por Que a Gente é Assim? e Bete Balanço, música tema do filme com o mesmo nome, dirigido por Lael Rodrigues.
Em 1985, Cazuza inicia sua carreira solo e lança seu primeiro disco com o nome Exagerado, que possui como sucessos “Exagerado”, “Mal Nenhum” e “Codinome Beija-flor”.
O disco Só se for a dois foi lançado em 1987, com destaque para as músicas "O Nosso Amor a Gente Inventa (Uma Estória Romântica)", “Solidão, que nada” e “Ritual”.
A virada do poeta do amor ao político começa em Um trem das estrelas
Em 1987, Cazuza descobriu que era portador do vírus HIV. Partiu atrás de tratamento na cidade Boston, no New England Hospital, voltando ao Brasil em dezembro de mesmo ano e começando a trabalhar em seu novo álbum. Diferente dos outros trabalhos que tinham como o enfoque o artista, a vida e o amor, os novos trabalhos tinham a reflexão a vida, a política, o Brasil, a Ideologia e a revolução.
Cazuza declarou que a mudança começou com a composição “O trem das estrelas” que compôs com Gilberto Gil para o filme homônimo de Cacá Diegues, que inclusive participou como ator.
Em entrevista ao Jornal da Tarde, no dia 04 de março de 1988, declarou sobre essa mudança. "Eu achava que não podia falar sobre política, por não ser uma pessoa política. Eu tinha muito preconceito em falar no plural, achava que só falava bem do meu mundinho. Isso começou a mudar quando fiz a letra de Um trem pras Estrelas, com a música do Gil, a partir do roteiro do filme de Cacá Diegues. Depois conversando com mil pessoas, inclusive Gil, pensei por que não mostrar a minha visão, por mais ingênua que ela seja? Não sei quanto é a dívida externa, qual é o rombo das estatais... não estou por dentro destas coisas, tenho uma visão romântica, mas a maioria da população também deve ter uma visão ingênua, então por que não me posicionar?"
A composição fala da situação das pessoas que vivem em busca “dos salários de fome” e denuncia com a estrofe que faz referência ao nome do filme, “Num trem pras estrelas / Depois dos navios negreiros / Outras correntezas”, colocando que o transporte da miséria continua não nos navios que trouxeram escravos da África, mas nos meios de transporte que levam à miséria a busca de seus empregos “para não desistir dos seus salários de fome”.

Em busca de uma IDEOLOGIA
No ano 1988, Cazuza lançaria o terceiro álbum de sua carreira solo e que teria o maior número de sua história com um milhão e setecentas mil copias vendias que lhe valeria o disco de Diamante Duplo.
Na música, Cazuza reflete sobre o caráter de sua juventude, "Ideologia fala da minha geração sem ideologia, compactada entre os anos 60 e os dias de hoje. Eu fui criado em plena ditadura, quando não se podia dizer isso ou aquilo, em que tudo era proibido. Uma geração muito desunida. Nos anos 60, as pessoas se uniam pela ideologia. 'Eu sou da esquerda, você é de esquerda? Então a gente é amigo'. A minha geração se uniu pela droga: ele é careta e ele é doidão. Droga não é ideologia, é uma opção pessoal. A garotada teve a sorte de pegar a coisa pronta e aí pode decidir o que fazer pelo país, embora do jeito que o Brasil está, haja muita desesperança", em entrevista a Deborah Dumar,  para o jornal O Globo, em janeiro de 1988.
Sobre os destinos do Rock declarou em março de 1988, a Sônia Maia para revista Bizz, "O rock já não é uma coisa da qual se possa debochar... A gente está com uma força de palavras, as pessoas estão ouvindo o que o Renato Russo fala, o que o Lobão fala... Por mais que cada um tenha caminhos loucos, eles estão falando. Somos uma geração muito mal informada - não tivemos participação política alguma; estamos chegando aos tropeções. A gente nunca teve ideologia..."

A reflexão política começa acontecer nesse disco de Cazuza, a música Ideologia, apresenta os diversos símbolos das correntes politicas como o comunismo, capitalismo, nazismo, anarquismo, movimento hippie, sionismo, dentre outras. Como também aparecem no clipe símbolos religiosos como a cruz que representa o cristianismo, yin yang representando o lado holístico oriental, dentre outros.
O grito da música reflete o desejo de uma juventude, mas talvez o seu próprio desejo, “Ideologia! Eu quero uma pra viver”.
O disco Ideologia tem outros sucessos da carreira de Cazuza como Blues da Piedade, Faz parte do meu show e Brasil. Esta última foi sucesso na voz de Gal Costa, composta por Cazuza e George Israel, ganhando o prêmio Sharp de melhor canção. A canção foi tema da novela Vale Tudo.

O inimigo ganha nome: Burguesia!
Se em “O tempo não pára”, o poeta ainda apontava um adversário desconhecido. É no seu último trabalho realizado na cadeira de rodas, debilitado pelo vírus HIV, que declara a Burguesia como inimiga do povo brasileiro. Burguesia foi composta por Cazuza, George Israel e Ezequiel Neves.
A canção tem ritmo de manifesto. Ela tem três momentos, o primeiro a descrição da percepção do compositor sobre a burguesia, o segundo momento que seria a chamada do povo para realizar uma revolução, a mudança social de derrubada da burguesia e a terceira que seria a caracterização de burgueses que são aliados do povo, ele próprio como artista e de profissionais que trabalham dignamente.
A evolução de toda denuncia social de Ideologia até este álbum vem com a frase a “Burguesia fede”, pois compreende que a situação social imposta pela burguesia não espaço para a verdadeira poesia. Pois esta é insensível a dor dos mais pobres.
A consciência de Cazuza ganhou uma ideologia neste período ao declarar nos jornais em 1989, "Sou socialista e acho que o único caminho para um país do terceiro mundo chegar ao primeiro mundo é através do socialismo".

O adeus do Poeta e o recado com “O Brasil vai ensinar ao mundo”
A morte veio em 7 de julho de 1990. Mas no ano de 1991, lançaram o último álbum com 11 canções inéditas. Sobras de trabalhos anteriores, nove do disco Burguesia e uma do disco “Só se forem a dois”.
Músicas como Camila, Camila do Nenhum de nós e Summertime, sucesso na voz de Janis Joplin, mas a música de Raul Seixas, Cavalos Calados, refletia sobre sua situação nos últimos dias.]

Esse texto me fez sentir um orgulho grandioso dos rebeldes, farristas, poetas, pensadores e filósofos de meu país. Os quais escolheram seguir na contra-mão deste sistema hipócrita e segregador!




O destaque político vai “O Brasil vai ensinar ao mundo” de Cazuza e Renato Rocketh, onde faz uma análise política do mundo, dizendo que o Brasil vai ensinar a convivência entre as raças, religiões, diferenças. Onde diz que vamos ensinar o mundo a tolerância e temos que aprender a respeitar as leis com o mundo.
Conheça “O Brasil vai ensinar ao mundo”




domingo, 23 de setembro de 2012

Série- Escritoras e Poetisas Brasileiras*- Elisa Lispector

     Estive participando de um "Chá de conversa e som", em um espaço cultural da cidade, quando meu mundo caiu mais uma vez.
     E eu que tanto gosto de Literatura e que tenho pesquisado poetisas e escritoras, entrei em crise quando ouvi pela primeira vez na minha vida literária o nome de Elisa Lispector. Sim, em crise, pois como eu, uma estudante de letras agora formada, nunca em minha graduação ouvi sobre a escritora? Como a Academia pôde me esconder um tesouro como este? Culpa minha, que não pesquisei, pensei. Mas de fato, sequer imaginava sua existência. Me senti limitada e é bom ter limitações e dúvidas, elas nos levam à pesquisa,  e a busca sempre nos traz conhecimento.
     Pois, em nossa série Escritoras e Poetisas Brasileiras, aparece agora o resultado de minhas pesquisas (ainda iniciais) sobre Elisa Lispector, irmã da diva Clarice Lispector, que, justamente por ser a  hermética querida por todos nós, acabou ofuscando o talento literário de sua irmã mais velha.
     Diferentemente da escrita complexa e 'sui generis' de Clarice, Elisa apresenta uma escrita autobiográfica,  mas não menos qualificada e não menos subjetiva, onde traz as questões familiares as quais viveu quando veio se exilar ainda criança no Brasil. Eu diria que deveria ser obrigatório, antes de ler Clarice, que todos nós lêssemos  Elisa, pois, através dessa leitura parecerá mais fácil entender as obras de Clarice, a obra de Elisa traz bastante informação sobre o sofrimento e os problemas enfrentados na vinda para o Brasil. Em sua obra No Exílio essas características ficam latentes.
     Elisa passou anos a fio a sombra da irmã, que caiu no gosto popular e atualmente com as redes sociais, lhes são atribuídas frases e textos bastante duvidosos e longe de seu estilo de escrita, mas isso vem justamente por ela ter caído nas graças de jovens e adolescentes que se identificam com sua subjetividade. E também, diferente de Clarice, Elisa não se dedicou ao casamento e nem teve filhos, dedicou-se a família. Até sua morte foi pouco divulgada, devido a uma tragédia que ocorreu no mesmo período do óbito.

     Agora que fiquei sabendo um pouco, ainda muito pouco sobre a existência de Elisa Lispector, quero me entreter com a leitura de seus livros e romances.
     Na pesquisa que iniciei na internet a procura de textos e trechos de alguma obra da escritora, só apareceram os retratos antigos de família e ademais, só remetiam ao nome e aos textos e frases de Clarice Lispector. O que explica um pouco o porquê de Elisa ser tão pouco conhecida, lida e divulgada, até mesmo na internet, que hoje se apresenta com grande compilar das obras literárias e biografias.



                                                                 Google imagens


Histórico de suas obras

Elisa Lispector  estreou na literatura em 1945 com o romance Além da fronteira. Em 1948, publicou No exílio, o mais autobiográfico de seus livros.
Em 1963, recebeu os prêmios José Lins do Rego e Coelho Neto – este oferecido pela Academia Brasileira de Letras – pelo romance Muro de pedras.
Publicou também os romances Ronda solitária (1954), A última porta (1975) e Corpo-a-corpo (1983), além das coletâneas de contos Sangue no sol (1970), O inventário (1977) e O tigre de bengala (1985) – premiado com o Pen Clube.
Compõe ainda outros livros, revistas, recortes de jornais, correspondências, manuscritos e documentos diversos. Sua obra é difícil de ser encontrada, geralmente acha-se em sebos antigos, mas encontrei no link da Folha :http://livraria.folha.com.br/catalogo/1091543/no-exilio.
Sua obra hoje está em posse do Instituto Moreira Sales, e este foi o ano de seu centenário, mas como é uma escritora quase desconhecida, pouco se divulgou a respeito.
Vamos buscar conhecê-la um pouco mais? Fica então essa provocação e este encaminhamento.


Fontes de pesquisa
É interessante também ler a entrevista da pesquisadora da obra de Elisa Lispector, Nádia Battella em