terça-feira, 6 de maio de 2014

A verdade verdadeira sobre a Novela Meu Pedacinho de Chão

Tema de abertura da novela em 2014. Google imagens

        Desde as primeiras chamadas de lançamento da novela Meu Pedacinho de Chão, exibida no horário das 18h00min no canal Globo, percebi que se tratava de um formato diferente. Ludicidade, autenticidade no texto e sentidos interessantes a serem destrinchados sutilmente nas entrelinhas trouxeram verdadeiro encantamento da minha parte. E claro, faço o possível para acompanhar o folhetim todos os dias da semana.
        Outra coisa bacana é fato de as crianças retornarem ao público do horário das 18h00min hrs, já que a novela tem um forte trabalho com o mundo imaginário das mesmas, alheio às preocupações da vida adulta. O universo infantil é retratado de maneira brilhante, sem ser piegas ou exagerado. É simples, tocante e como já disse antes, lúdico. O cenário é um primor e a qualidade dos atores e atrizes em cena, desde os mais jovens aos mais experientes, dispensa comentários.
       Tudo muito lindo e caprichado, a novela tem tudo para ser um sucesso: bom texto, boa direção e bons atores e atrizes. Até aí tudo ótimo. Mas (tem sempre um mas), eis que essa semana tive a infelicidade de ler um 'textículo' circulando nas Redes Sociais o qual trazia algumas informações tendenciosas  que distorciam e mais uma vez, 'endemoniavam' o folhetim, reduzindo-o ao ocultismo  através de mensagens subliminares que traziam significações comuns a religiões de matriz africana, que é sempre alvo de evangélicos e cristão proselitistas.
        Vejamos o trecho, que na verdade é o texto completo sobre o "ocultismo" da novela. Já adianto que se não fosse a intenção discriminatória, daria uma ótima aula, pois traz informações interessantíssimas a respeito de alguns nomes e sua etimologia e significado.

"UM ALERTA SOBRE A NOVELA MEU PEDACINHO DE CHÃO!!! Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. O que você tem deixado entrar na sua casa? Me senti incomodada com a novela das 18:00hs (Meu pedacinho de chão), achei as roupas estranhas então decidi pesquisar, não achei nada tenebroso rs... Mas Deus me tocou para pesquisar nome por nome, descobri que a vila de Santa fé é um "TERREIRO" e que o nomes dos personagens são de "UMBANDA" veja: EPAMINONDAS chamado de ÊPA significa: saudação ao ORIXÁ OXALÁ (Êpa Babá) SERELEPE: Seus sinônimos são Gay, excitado, inquieto, danado, caxinguelê, conhecido na umbanda como Joãozinho, Saci Pererê, Negrinho do Pastoreio e Serelepe da Umbanda (sapeca adora balas e doces). PITUCA: Boneca Pituca, esoterismo e ocultismo, Famosa mãe de santo, e filha de orixá VIRAMUNDO/GIRAMUNDO: exú GINA: Famosa mãe de Santo ,A Voz de Oyá, Yansã e Ruy de Ógún, está representando o lesbianismo. AMÂNCIA: filha de OXÚM Dona TEREZA: CIGANA, OXUM PANDA, CABLOCA, No grego significa SEIFERA E CAÇADORA. TUIM: santo, saudação de umbanda. Mãe BENTA: mãe de santo CATARINA: mãe de santo RODAPÉ: pé que gira PEDRO FALCÃO: Falcão povo das aguas, OXUM Tem um senhor que vive de chapéu fumando cachimbo com bengala na mão esse vcs já sabem. Estes são apenas alguns... Que o Senhor Jesus nos lave com seu PODEROSO SANGUE e abra nossos olhos!" 

        Grifos meus em negrito, visto que gostaria se fosse possível de entender quais os problemas nos adjetivos trazidos a cada significado e etimologia dos nomes em questão. Quanto preconceito com tipologias historicamente discriminadas, rí-diii-cu-looo! Que o Senhor Jesus Jah, Javé, Jeová Deus, Emanuel nos lave de tooooda ignorância com seu sangue poderoso!
        Piadas a partir deste texto serão toleradas, até porque não tem como evitar, além da tolerância e o respeito às diferenças serem um exercício proposto diante de tanta baboseira proselitista.
      Eu, não diferentemente desse (a) pesquisador (a) de entrelinhas e subjetividades, também fui pesquisar em fontes menos tendenciosas e mais fundamentadas sobre o que de fato se pode e se deve ler nas entrelinhas da novela. E considerando que também estou sendo tendenciosa em minha argumentação, afinal, como já coloquei nos parágrafos anteriores, eu adoro a novela, proponho apresentar um ponto de vista verdadeiramente educativo.
       O texto não é atual, a primeira versão foi produzida em 1971 numa parceria entre a Globo e a TV Cultura e ostenta o título de nada mais nada menos a primeira novela educativa do país. "Seu cunho era a história de uma criança, que morrendo de fome nos braços da mãe discutia os problemas de um pequeno vilarejo. Escrita por Benedito Ruy Barbosa, com a colaboração de Teixeira Filho e direção de Dionísio de Azevedo". Portanto, a  novela atual é um remake. Os parágrafos abaixo trazem um resumo básico da trama.

Tema de abertura da novela em 1971. Google imagens.

 "A trama conta a história da professora Juliana, que chega à fictícia Vila de Santa Fé para ensinar às crianças e se depara com um povo humilde e acuado com os desmandos do coronel Epaminondas, um homem arrogante que resolve tudo no grito e nas armas, e que dita as regras na região. A professora conhece o amor altruísta do peão Zelão, sempre disposto a protegê-la do assédio de Ferdinando, filho do coronel, um playboy mau caráter que voltou da capital onde torrou toda a grana que o pai lhe mandava para os estudos.

Em meio à guerra que se forma no vilarejo, as crianças Pituca, Serelepe e Tuim vivem suas aventuras num mundo à parte, longe das preocupações e interesses dos adultos. A menina Pituca é Liliane, filha mais nova do coronel Epaminondas. E os meninos Serelepe e Tuim, são agregados na fazenda, e por isso o coronel não vê com bons olhos a amizade pura entre sua filha e os dois garotos."
       Agora, a parte maaais interessante que esconde o graaande mistério da novela e, portanto, O GRANDE ALERTA SOBRE A NOVELA MEU PEDACINHO DE CHÃO.

"Ao assumir o governo de São Paulo, Laundo Natel, ao assumir o estado, convidou Benedito Ruy Barbosa para exercer o cargo de assessor especial do governo junto à Presidência da TV Cultura.Assim Benedito teve a oportunidade de escrever essa novela rural e educativa. Benedito declarou "A proposta de Pedacinho foi mostrar o problema do homem do campo, ensiná-lo sobre as doenças (tracoma, tétano, verminose), levá-lo para uma sala de aula, dar-lhe melhores condições de higiene e ao mesmo tempo mostrar o interesse das classes patronais (fazendeiros e autoridades) pelo camponês analfabeto, sem questionar nunca sua miséria e seus problemas. Como este foi o período de desenvolvimento do Mobral, eu tentei com Pedacinho ajudar este projeto de ensino no qual na época eu acreditava".Benedito chegou a escrever cinco capítulos num dia, datilografando em sua antiga máquina de escrever. Ainda segundo Benedito, a novela enfrentou problemas com a censura na cena em que um personagem tocava violão e cantava o Hino Nacional Brasileiro  para os caboclos. Depois disso, um aluno cantava o hino da escola, tendo a bandeira do Brasil estendida sobre a mesa. A censura cortou as cenas, alegando que o hino brasileiro não podia ser cantado naquele ambiente, e que a bandeira só podia aparecer em "cenas especiais.
O projeto para a novela veio de uma pesquisa de marketing que apontou o formato de telenovela como a melhor forma de atingir o grande público. A história era um drama rural e transmitia ensinamentos úteis aos trabalhadores e à população do campo. Os autores contavam com informações fornecidas pelas secretarias municipais de Agricultura e Saúde para escrever sobre vacinação, desidratação infantil, higiene e técnicas agrícolas. Com o desenvolvimento do Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), na época, a novela também abordou o problema do analfabetismo  no campo, levando personagens adultos às salas de aula.”.

         Quem estuda ou trabalha nas áreas de Educação de Saúde sabem da importância histórica para ambas as áreas desse período de conscientização dos cuidados com as doenças (higiene, saneamento básico, prevenção, vacinas, etc.), incentivando a melhoria da qualidade de vida das famílias e a campanha nacional para a alfabetização da população brasileira na década de 1960 através do trabalho de Paulo Freire, principalmente a camponesa (através da educação de adultos, tanto em cidades quanto no campo).
        Assim sendo, essa novela se configurou não apenas como entretenimento, mas como utilidade pública. Dando sua contribuição significativa no alcance da população para discutir essas temáticas de modo mais leve e popular. E para fim de conversa, é essa a mensagem subliminar mais importante, que inclusive pode servir como conteúdo nas escolas. E quanto ao questionamento contido no texto proselitista, é muito importante que pais e mães pensem de fato sobre o tipo de conteúdo e informação que deixam entrar em suas casas. Ideias preconceituosas, intolerantes, excludentes e violentas, só contribuem para a massificação do pensamento/conhecimento/ação.  E tenho dito!


Ana Paula Duarte.

Fonte: Globo novelas e Wikipédia.






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