sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Quem foi Florestan Fernandes?







   Essa mesma pergunta eu fiz há mais ou menos uma hora atrás. Pois é, nem eu sabia de quem se tratava, até que um amigo me apresentou com a ênfase de que “É este o Sartre brasileiro!" Me empolguei e fui pesquisar vorazmente.Esmiuçei o Sr. Google, assisti a alguns vídeos no Youtube e em menos de uma hora, já me considero uma apaixonada!
   Eis as primeiras linhas que eu li de Florestan:

"Afirmo que iniciei a minha aprendizagem sociológica aos seis anos, quando precisei ganhar a vida como se fosse um adulto e penetrei, pelas vias da experiência concreta, no conhecimento do que é a convivência humana e a sociedade."

   Como não se apaixonar diante de tal sabedoria adquirida de conhecimento vivencial e cinetífico, de leituras de mundo e de livros. Isto que é a verdadeira sapiência! Fico aqui me perguntando como é que eu, uma graduanda em Letras Vernáculas nunca tinha ouvido falar neste homem e tenho raiva, ainda não decidi se a culpa é minha ou da Instituição que estudo, mas sei é que os cursos de Letras, Direito, História, Sociologia e Filosofia deveriam ter uma disciplina que se debruçasse sobre as grandes obras dos intelectuais brasileiros, obras genuínas, o que ocorre com pouca ênfase e disposição.
    Agora, vamos responder a pergunta que não quer calar: QUEM FOI FLORESTAN FERNANDES?

*Florestan Fernandes nasceu em São Paulo, no dia 22 de julho de 1920. Sua luta pela vida começou já na infância, para conquistar o próprio nome - já que patroa de sua mãe o chamava de Vicente, por considerar que Florestan não era nome de pobre - e sobreviver começou a trabalhar aos seis anos, o que o impediu de completar o curso primário e o levou a se formar no curso de madureza (supletivo).
Era vendedor de produtos farmacêuticos quando, aos 18 anos, ingressou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo em 1947, formando-se em ciências sociais. Doutorou-se em 1951 e foi assistente catedrático, livre docente e professor titular na cadeira de sociologia, substituindo o sociólogo e professor francês Roger Bastide em caráter interino até 1964, ano em que se efetivou na cátedra.
O nome de Florestan Fernandes está obrigatoriamente associado à pesquisa sociológica brasileira. Sociólogo e professor universitário com mais de cinquenta obras publicadas, transformou as ciências sociais no Brasil e estabeleceu um novo estilo de pensamento.
Foi mestre de sociólogos renomados, como Octavio Ianni e Fernando Henrique Cardoso. Cassado com base no AI-5, em 1969, deixou o país e lecionou nas universidades de Columbia (EUA), Toronto (Canadá) e Yale (EUA). Retornou ao Brasil em 1972 e passou a lecionar na PUC-SP. Não procurou reintegra-se à USP, da qual recebeu o título de professor emérito em dezembro de 1985.
Florestan esteve ligado ao Partido dos Trabalhadores (PT) desde sua fundação. Em 1986 filiou-se ao partido e exerceu dois mandatos de deputado federal (1987-1991 e 1991-1995). Colaborou com a Folha desde os anos 40 e, em junho de 1989, passou a ter uma coluna semanal nesse jornal.
Florestan não via o destino da ex-URSS como o fim do socialismo e do marxismo, nem a globalização como a esperança dos excluídos - ao menos, dizia, enquanto o "capitalismo da fase atual não conseguir uma equação definitiva para a questão social".
Florestan Fernandes morreu em São Paulo no dia 10 de agosto de 1995.

*Biografia de Florestan Fernandes
Fonte:
Fundação Florestan Fernandes "Uma vida de luta e construção"

Segue abaixo um documentário emocionante sobre o homem que de engraxate tornou-se um grande e influente sociólogo.

Agradeço a Tácito Loureiro, um sábio amigo que estimo e que muito tem me ensinado.


segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Série- Escritoras, poetisas e autoras brasileiras



Hilda Hilst é reconhecida, quase pela unanimidade da crítica brasileira, como uma das nossas principais autoras, sendo consideradas uma das mais importantes vozes da Língua Portuguesa do século XX. Segundo o crítico Anatol Rosenfeld, “Hilda pertence ao raro grupo de artistas que conseguiu qualidade excepcional em todos os gêneros literários que se propôs - poesia, teatro e ficção”.
Distinguida por vários de nossos mais significativos prêmios literários, presente em numerosas antologias de poesia e ficção, tanto nacionais como estrangeiras, há muito seu nome está incluído nos dicionários de autores brasileiros contemporâneos.
De temperamento transgressor, prezando a liberdade, dona de uma rara beleza e coragem, culta e poeta, Hilda teve uma personalidade marcante e sedutora que ia de encontro aos costumes tradicionais vigentes nos anos 50, criando-se um folclore ao seu redor que, segundo alguns críticos, até chegou a ofuscar a importância de sua obra. 


Cantares do Sem Nome e de Partidas




Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua do estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.

Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena. E diminuta e tenra
Como só soem ser aranhas e formigas.

Que este amor só me veja de partida.
(I)

(Cantares do Sem Nome e de Partidas - SP: Massao Ohno, 1995.)

domingo, 3 de outubro de 2010

Série- Escritoras, poetisas e autoras brasileiras

   Olá leitores!
   É com muito orgulho que inicio aqui uma série que muito me agrada: "Escritoras, poetisas e autoras brasileiras", onde passearei por este universo da nossa Literatura e lhes apresentarei o trabalho de algumas das melhores, sob minha óptica, claro. Inauguro com a grande poetisa Adélia Prado.





   O surgimento de Adélia Prado na literatura brasileira trouxe a valorização do feminino nas letras e da mulher e seu pensamento ativo e crítico perante a sociedade. A poetisa consegue incorporar os papéis de intelectual e de mãe,  encontrando um equilíbrio entre o feminino e o feminismo,sendo mulher e mãe de maneira a não abandonar nem uma nem outra. Sem dúvida, um exemplo de pessoa.

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
− dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem,
Mulher é desdobrável. Eu sou.